Marinha afunda porta-aviões com substâncias tóxicas após 6 meses de indefinição

Marinha afunda porta-aviões com substâncias tóxicas após 6 meses de indefinição

Ambientalistas criticaram a ação ocorrida a 350 quilômetros da costa brasileira, em área com 5 mil metros de profundidade.

Sob críticas de ambientalistas, o porta-aviões São Paulo foi afundado pela Marinha no fim da tarde sexta (3) mesmo com uma oferta de R$ 30 milhões de um grupo saudita pela embarcação e após aval da Justiça. O naufrágio ocorreu a 350 quilômetros da costa brasileira, em área com profundidade de 5.000 metros.

Imagem capturada por satélites e divulgada pela ONG Greenpeace nesta sexta mostrava a embarcação a essa mesma distância da costa de Pernambuco, quase numa linha reta a partir de Recife.

A embarcação possui quase dez toneladas de amianto, e seu afundamento foi alvo de discussões entre os ministros José Múcio Monteiro (Defesa) e Marina Silva (Meio Ambiente), que acabou derrotada.

“O procedimento foi conduzido com as necessárias competência técnica e segurança pela Marinha do Brasil, a fim de evitar prejuízos de ordem logística, operacional, ambiental e econômica ao Estado brasileiro”, disse a Marinha, em nota. A operação ocorreu após, ainda nesta sexta, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região havia negado recurso do Ministério Público Federal e manteve a decisão da primeira instância da Justiça Federal em Pernambuco que indeferiu pedido para impedir que o casco do porta-aviões São Paulo fosse descartados em águas brasileiras.

Adecisão da Marinha provocou reações por causa da contaminação gerada a partir do afundamento. Além da quantidade amianto remanescente na embarcação em partes estruturais, que não puderam ser retiradas, consultores estimam que haja cerca de 200 toneladas de PCBs (sigla em inglês para bifenilas policloradas), compostos usados como fluidos em cabos e outros componentes.

Segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis), alguns dos impactos previstos são distúrbios na capacidade filtrante e dificuldade de crescimento em organismos aquáticos e liberação de gases CFCs e HCFCs (que degradam a camada de ozônio e atuam no aquecimento do planeta). Além disso, o impacto físico sobre o fundo do mar provocaria a morte de espécies, a deterioração de ecossistemas e a carcaça poderia atrair espécies invasoras.

A Marinha decidiu descartar o casco na costa brasileira mesmo após um grupo saudita oferecer R$ 30 milhões pelo equipamento. A proposta foi feita na última segunda-feira (30), após a Folha de S.Paulo revelar que a Marinha planejava afundar a embarcação diante do avançado grau de degradação do antigo aeródromo.
O porta-aviões foi vendido em 2021 pela Marinha a um estaleiro turco especializado em desmanche de navios.

O veículo deixou o Brasil no dia 4 de agosto do ano passado, em viagem que gerou protestos pelo mundo e foi monitorada em tempo real pelo Greenpeace. A Marinha diz que, após a decisão de desmobilizar o porta-aviões, optou pela venda do casco para “desmanche verde”, um processo de reciclagem segura para o qual o estaleiro turco Sök é credenciado e certificado.

Mas, diante de denúncias sobre a exportação ilegal de amianto, o governo turco revogou autorização para entrada da embarcação no dia 26 de agosto, quando o navio se aproximava do Estreito de Gilbraltar, em viagem feita com o auxílio de um rebocador.

Análises feitas pela ONG Shipbreaking Platform em um porta-aviões gêmeo ao São Paulo identificou 760 toneladas de amianto na embarcação. Diante disso, a organização passou a questionar se, de fato, o casco enviado pelo Brasil teria as 10 toneladas da substância tóxica como previsto no inventário.

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) suspendeu a licença de exportação e determinou o retorno do navio ao Brasil. O porta-aviões, no entanto, foi impedido por decisões judiciais de atracar no Rio de Janeiro e em Pernambuco, e estava fundeado cerca de 46 quilômetros em frente ao litoral pernambucano, sob protestos da agente marítima MSK, parceira do estaleiro turco Sök Denizcilik and Ticaret na compra.

Desde então, foi afastado e rebocado por duas embarcações da Marinha,  a fragata União e o navio de apoio marítimo Purus, e navegava pela região.

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