O episódio envolvendo o pedido de prisão de Tagliaferro repercutiu como uma bomba política não por causa do processo em si, mas por aquilo que ele revela sobre a forma como o STF tem se comportado diante de denúncias, críticas e exposições internas.
Ao acionar a Justiça italiana alegando vazamento de documentos sigilosos, Moraes acabou provocando um efeito que talvez não esperasse: ao dizer publicamente que houve vazamento, ele implicitamente reconhece que os papéis existem e que seu conteúdo não é mera invenção.
Em outras palavras, ao tentar perseguir quem divulgou, o próprio sistema admite que o material é real.
É exatamente esse ponto que aumentou a indignação pública. Em vez de esclarecer o conteúdo dos documentos, contextualizar os fatos ou responder às dúvidas legítimas que surgiram, a reação foi centrada em punir o emissor.
É o clássico “mate o mensageiro”. Quando uma instituição reage mais rápido para encontrar um culpado do que para explicar o que foi revelado, a desconfiança cresce. E cresce porque o cidadão percebe que há interesse em silenciar, não em esclarecer.
O caso expõe algo ainda maior: a distância entre o discurso de transparência e a prática de blindagem absoluta. O STF é uma das instituições mais poderosas do país, e justamente por isso deveria ser a mais transparente, a mais aberta ao escrutínio público e a mais cuidadosa ao lidar com críticas e denúncias. Mas, quando a resposta automática é acionar autoridades internacionais para perseguir quem divulgou informações, o efeito político é devastador.
A sensação é de cerco, não de justiça.
Outro ponto explosivo é o contraste entre a agilidade para agir contra quem vaza e a demora — ou ausência total — de esclarecimentos sobre o conteúdo vazado. Para grande parte da população, isso não é um sinal de força institucional, mas de desespero. Quando a prioridade vira controlar o dano, e não resolver o problema que o documento expõe, o próprio STF alimenta a narrativa de que está mais preocupado com sua imagem do que com a verdade.
No fim, o caso Tagliaferro abre mais perguntas do que respostas:
Por que tanto esforço para calar?
Por que tanto medo da exposição?
Por que nenhuma explicação oficial sobre o conteúdo dos documentos?
A tentativa de conter o estrago, na prática, ampliou a crise. E mostrou ao Brasil inteiro que, quando o assunto envolve o próprio topo do poder, o silêncio pesa mais do que qualquer sentença.
